Precisa tomar emprestado… O que fazer?

9 de abril de 2013
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A primeira coisa a fazer é ter certeza de que sua empresa precisa e pode tomar um empréstimo. Essa resposta só virá se você possuir uma previsão de seu fluxo de caixa futuro (o oxigênio do artigo que escrevi –  A Foto, o Filme e o Oxigênio que todo empresário deve ter).  Quando falamos de caixa, é lógico que depósitos bancários e aplicações de liquidez imediata também se enquadram, nesse caso, como caixa.

 

Fluxo de Caixa projetado

O fluxo de caixa tem a estrutura do canhoto do seu talão de cheque, se é que você ainda usa um, e tem o seguinte formato:

Saldo de Caixa Anterior

Semana 1            Sem 2                   Sem 3                   Sem 4                   Sem 32…

(+) Entradas

Recebimentos provenientes de vendas

Outras entradas

(-) Saídas

Pagto de Fornecedores

Pagto de Impostos

Pagto de Despesas

Pagto de Investimentos

Devolução de Empréstimos

(=) Saldo Final

Ao projetá-lo numa base semanal ou até diária, você vai saber exatamente o valor e o período que vai ficar com saldo final de caixa negativo ou positivo.

Dá pra atenuar a falta de caixa ou até eliminá-la?

Após elaborá-lo, você deve analisar o fluxo de caixa e buscar alternativas para tentar zerar as semanas/dias em que o caixa se mostra negativo e, é lógico, aplicar os saldos positivos de caixa de forma que eles possam render alguma coisa.

Como minimizar os saldos negativos? Aqui não tem milagre e você vai ter olhar cada uma das entradas e saídas e buscar alternativas para antecipar as entradas e postergar, ou até eliminar a necessidade de saídas.

 

Entradas

Para as entradas de vendas, por exemplo, cabem as seguintes perguntas:

· Essa entrada será proveniente de venda à vista ou a prazo?

· Se for à vista, qual a período entre data do faturamento/entrega da mercadoria ou do serviço e a efetiva entrada/cobrança do dinheiro?

· Dá para reduzir esse período?  Existe atraso na cobrança, e em caso positivo, por deficiência da cobrança ou inadimplência do cliente?  Podemos só liberar a mercadoria/serviço depois que recebermos?

· Dá para antecipar o faturamento para que o dinheiro entre antes?

· Se a venda for a prazo, qual o prazo que estamos dando? Dá para renegociar e reduzir esse prazo, mesmo que para isso tenhamos que dar “um desconto”, desde que menor do que a taxa que o banco vai me cobrar pelo empréstimo?

· Novamente, dá para antecipar o faturamento para que o dinheiro entre antes?

· Como está a velocidade de nosso sistema de cobrança? É tudo eletrônico? Nossa conta bancária é imediatamente creditada assim que o cliente paga?

· Com que rapidez resolvemos pendências no faturamento (devolução, diferenças de preço etc.)? Quanto mais rápido, mais rápido o dinheiro vai entrar.

· Contas a receber vencidas e já em cobrança judiciária devem ser revistas e negociadas. Às vezes um bom desconto viabiliza um recebimento que de outra forma iria levar anos para tramitar em todas as instâncias, reduzindo a probabilidade de recebimento.

Para outras entradas, é sempre bom revisar ativos (estoques e equipamentos) e verificar se não podemos transformá-los em dinheiro, é claro, se não estiverem sendo ou não forem ser utilizados no futuro.

Saídas

Para as saídas valem os mesmos questionamentos, porém de forma mais contundente, pois nesse lado, a empresa é a compradora e sempre pode buscar fornecedores alternativos e que permitam prazos maiores e prorrogação.

· Para os pagamentos de fornecedores, confirme que o prazo dado é o combinado; que a data da emissão da nota e a data da entrega da mercadoria ou do serviço correspondem ao prazo de entrega combinado; e na melhor das hipóteses, combine com o fornecedor que o prazo de pagamento deverá contar a partir da data de entrega da mercadoria ou do serviço.

· Para os pagamentos a fornecedores, ponha o pessoal de Compras para solicitar prorrogação por uma semana, ou dez dias, sem, é claro, a cobrança de juros. Diga que é um descasamento momentâneo de caixa e eles vão entender. Para evitar juros, diga que no futuro o fornecedor poderá precisar de uma antecipação e aí será possível pagar na mesma moeda (prazo e sem juros).

· Ainda em relação aos fornecedores de matéria-prima, tente negociar uma consignação, isto é, ele te manda a mercadoria e só fatura no final do mês ou à medida que você utilizar. Isso na prática aumenta o período entre a utilização da matéria-prima e o pagamento.

· Para as despesas, valem as mesmas ações listadas para os fornecedores, é claro, com exceção daquelas relacionadas à folha de pagamento e concessionárias de utilidade pública (água, telefone, energia etc.).

· Para os impostos, apesar de serem poucas as alternativas para postergação, além do cuidado para o não pagamento em atraso (que gera multa e juros), existem algumas alternativas de postergação do fato gerador do imposto (elisão e não evasão tributária) que podem fazer uma diferença enorme no fluxo de caixa. Por exemplo, faturando-se no dia 1 de maio em vez de 30 de abril, você receberá para uma venda a com prazo de 30 dias, apenas um dia depois do dia em que receberia caso faturasse no dia 30 de aqbril, porém vai desembolsar ICMS, PIS/COFINS (se for tributado por eles) somente um mês depois, ganhando um mês no prazo de pagamento.

· Para o pagamento de fornecedores de equipamentos e obras (os chamados investimentos), também valem as mesmas dicas descritas para os fornecedores, além do planejamento minucioso do início de operação do equipamento. De que adianta comprar a máquina e começar contar o prazo para pagamento, se, por exemplo, as obras civis do local onde o equipamento vai operar não estiverem prontas?

 

Clayton Nogueira. Diretor financeiro para a América Latina da Valspar Corporation. Mestre em Controladoria pela USP. MBA em Marketing pela ESPM-SP. Graduado em Administração de Empresas. Professor de Planejamento e Controle na FIAP e na FIA-USP. Conselheiro fiscal e de administração certificado pelo IBGC. Conselheiro fiscal da Abrafati. Diretor vogal no IBEF-SP.

 

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