Socorro! Meu pequeno Pavarotti está em perigo

22 de julho de 2013
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Como qualquer outra mãe de dois meninos saudáveis e energéticos,  sempre estou à procura de soluções criativas para canalizar toda essa energia e não me limitar pelos tão discutidos (e polêmicos) usos de TV, Ipad, jogos e demais derivados eletrônicos.

Foi assim que,  numa dessas tardes abafadas em que eu voltava para casa exausta do caos e trânsito de São Paulo,  experimentei o poderoso vídeo de Andrea Bocelli em que ele canta uma canção chamada ‘Por ti partiparo’. Chamo de poderoso porque na hora que eu apertei o play meu filho menor, Sanchis, ficou paralisado na frente do computador e permaneceu assim pelas próximas duas horas, falando ‘mais, mais’ cada vez que o vídeo acabava.

Não sei como tive a ideia, acho que me lembrei de uma vez que vi ele sentado no colo de minha mãe vendo algum vídeo de música e do poder que tinham os videos de Baby Einstein para acalmar meu filho maior.

Enfim, o certo é que desde então Bocelli e Pavarotti entraram nas nossas vidas e passaram a fazer parte do nosso regime diário. Os vídeos que começamos assistindo no You Tube evoluiram para DVD’s de concertos completos  e Sanchis, que hoje tem dois anos e meio, já exige a canção que ele quer ouvir e pede para tirar aquela que ele não quer ouvir. Mas, independente da sua preferência por uma canção ou outra, o certo é que não tem nada (além dos chocolates, a praia e os tratores!) que o apaixone mais que Bocelli e Pavarotti, e pode chegar a permanecer horas em transe assistindo e reassistindo os DVD’s deles.

Como era de se esperar (ou não :)),  em pouco tempo ele começou a imitá-los e a levantar sua voz em vários decibeis entoando os sons que ele tanto ama. Hoje , ele já tem seu repertório próprio, na sua lingua de criança, que alterna entre ‘Por ti partiro’, ‘Nessum dorma’, ‘Sole mio’ e algumas outras que ainda não consegui decifrar. Como todo bom artista, ele já é muito dedicado e costuma passar horas sozinho na sacada (tem rede sim!) ou no seu quarto, segurando qualquer objeto que se assemelhe a um microfone (normalmente é a escada do seu carrinho de bombeiros ou alguma caneta que ele conseguiu catar esquecida por ai) e entoa,  a todo pulmão,  suas canções preferidas. O mais engraçado é que antes de começar cada canção,  ele já faz uma pequena introdução em voz baixa como ele já viu o Bocelli fazer, e depois de terminar ele levanta os braços e joga sua cabecinha para trás para que as pessoas batam palmas como já viu o Pavarotti fazer.

Qual foi minha surpresa nesta semana quando, entrando no meu prédio, o porteiro me perguntou se tinha um tempinho e me mostrou no caderno que eles tem de reclamações (nem sabia que isso existia!) as duas páginas que uma das vizinhas  teve o cuidado de escrever reclamando dos berros da criança do sexto andar e da negligência dos pais (observação: me tomou menos de duas linhas resumir sua extensa indignação!). O porteiro riu comigo e falou para não prestar atenção, que tinha outro vizinho que já tinha perguntado quem era o pequeno Pavarotti que saía  a cantar todas as tardes.

Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha,  já que conheço a vizinha e cruzo frequentemente com ela – o que fazer? Fingir que não vi nada ou pedir desculpas?

Aí tive uma ideia – talvez montar um convite muito bonito para a vizinha e os outros vizinhos virem assistir ao vivo o que acontece dentro do nosso apartamento todo dia.

Ver essa criança de dois anos e meio cantar desse jeito é mágico, e não porque eu queira parecer metida ou porque ache ou queira que ele vire famoso algum dia. Não. Simplesmente porque quando ele pega esse seu pseudomicrofone e abre a boca não tem como negar que quando nascemos trazemos um pedaço do céu dentro de nós. E talvez assistir de perto e ao vivo esse milagre, tão puro e feliz, ajude minha vizinha a lembrar do que ela talvez tenha deixado para  trás em troca de seus comportamentos mais civilizados.

Nathalie Trutmann, Chief Magic Officer (CMO) da FIAP. Graduada pela University of California, San Diego (EUA), MBA Internacional em Administração de Empresas pela INSEAD (França). Dezoito anos de experiência internacional em marketing e novos negócios nos Estados Unidos, Ásia e América Central. Sólidos conhecimentos em empreendedorismo digital e de TI. Proferiu diversas palestras sobre inovação em eventos locais e participou da comissão julgadora de concursos sobre empreendedorismo. Sócia da zinga.com.br e consultora para startups estrangeiras que querem entrar no Brasil. Autora da Plataforma Brasil20.org, que cobre perfis e experiências de empreendedores brasileiros. Coautora do livro “Empreendedorismo de Alto Impacto” (editora Évora), a ser lançado no Campus Party 2012. Membro do DWEN, grupo de mulheres empreendedoras da Dell. Diretora-fundadora do grupo executivo 85 Broads. Responsável pela parceria da FIAP com Singularity University (SU). Embaixadora da SU para o Brasil.

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