O MARAVILHOSO MUNDO DO MEU PEQUENO PAVAROTTI

2 de setembro de 2013
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Anteontem fui pegar meu filho menor na escola e, como sempre, ele esticou a hora de saída o máximo que conseguiu… Primeiro, explicando com toda a seriedade que precisava terminar o bolo que estava fazendo no tanque de areia. Depois, insistindo que precisava tirar os sapatos para limpar a areia de seus pés (só para voltar a colocá-los na areia!). Em seguida, dizendo que precisava terminar seu desenho de mandala (sim, com quase 3 anos já incursiona pelo mundo transcendental, mas não faz cartão para o dia das mães porque a escola com pegada inovadora acha que isso é fomentar o consumismo). Logo, subindo no balanço que ele precisava experimentar e que por algum milagre estava vazio (sempre é o brinquedo mais concorrido e motivo de briga). Então, despedindo-se do irmão mais velho que estava brincando com a turma dos maiores do outro lado da escola. Posteriormente, pegando o patinete que alguém deixou na quadra, no qual deitou de barriga para baixo, movendo-se de um canto para outro, feliz da vida.

A brincadeira durou mais de meia hora e tive que recorrer ao meu clássico e já não muito eficiente, “estou indo embora” para, finalmente, fazê-lo sair correndo atrás de mim. Às vezes, uso o “tem trator lá fora”, mas tenho que ter cuidado para não usar muito e não arriscar perder o impacto. Satisfeita, me despedi da pessoa que cuida da porta e peguei a mãozinha quentinha e fofa de meu pequeno terremoto.

Assumi que, igual a todas as outras vezes, ele ficaria feliz seguindo meu ritmo apressado, enquanto iria entoando seus Ave Marias e Oh Sole Mios e que chegaríamos em casa sem muita demora.

Mas, meu pequeno Pavarotti não tinha pressa e estava encantado com tudo o que a caótica Rua Bela Cintra tem para oferecer no horário do almoço.

Começou com a loja que fica ao lado da escola, onde ele quis parar para admirar o vestido dourado que tinham acabado de pendurar no manequim. “Bonito!” exclamou, tentando subir na janela para ver mais de perto. Atendeu às minhas súplicas para continuar andando, só para um par de minutos depois subir no banco do ponto de ônibus falando: “quero sentar”, sorrindo feliz da vida enquanto eu me retorcia por dentro pensando em toda a sujeira que suas mãos estavam tocando e que logo enfiaria na boca com a maior satisfação. Consegui tirá-lo de lá com não sei qual desculpa, mas nem tínhamos dado uns dez passos e ele soltou da minha mão novamente e subiu as escadas de um prédio para explorar a porta do mesmo.

E assim foi. A pedra no caminho que precisava pegar para inspecionar (apesar de eu sempre gritar: “Não! Isso tem xixi de cachorro!”), a banca de jornal com todas as guloseimas que ele adora, a folhinha na rua que tentou botar na boca e que logo jogou na água que estava empoçada no canto da rua (é uma piscina, mãe!), a arvorezinha que precisava de carinho, as escadas que precisava pular, a loja de biquínis onde ficou admirando o desenho da menina e exclamando “pelada!”…

Finalmente chegamos em casa, uma hora mais tarde do previsto, como todos os dias. Fiquei pensando nas mil e uma coisas que tinha que fazer, mas sua alegria me contagiou – por mais um par de minutos decidi me desconectar do eterno tic-tac e corre-corre, e flutuar dentro do maravilhoso mundo do meu pequeno Pavarotti, onde a rotina e o hábito são desconhecidos… onde só existe a mágica da descoberta.

 

Nathalie Trutmann é Chief Magic Officer da FIAP e realiza iniciativas que transformem a experiência dos estudantes. Lidera a parceria com a Singularity University e é autora do Manual para Sonhadores, publicada pela Editora Leya.

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