Nunca trabalhou na vida! Mais empreendedorismo, menos Rivotril

19 de setembro de 2016
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“Qual é a ideia de negócio de vocês?”, perguntei. “Uma bala calmante”, responderam. “Bala calmante?”, retruquei, não entendendo muito bem. “Sim, uma bala com propriedades calmantes. Para pessoas muito estressadas, que trabalham muito e em empresas que cobram demais… Como a gente”, complementaram. “Assim”, disse uma das moças, “eu tomo menos Rivotril”. “É verdade”, concordaram as outras duas. “Lá onde trabalho, quase todo mundo toma Clonazepam”, voltou a dizer a moça do Rivotril.Dei uma risada meio sem graça, mas não perguntei o que eram aqueles termos com nomes de remédio. Devia ser algum tipo de Maracujina. Só consegui lembrar o nome fantasia e seu princípio ativo quando vi uma capinha de celular com a estampa do Rivotril dias depois. Já tinha visto capinhas coloridas, de personagens ou retrôs. Mas com embalagem de remédio, e ainda tarja preta, era a primeira vez. Pesquisando na internet, descobri que é o 2º remédio mais vendido no País. Em 2010, foram consumidos 2,1 toneladas de Rivotril no Brasil, o que nos coloca como campeão mundial nesta categoria.Fiquei pensando neste País em que as pessoas precisam tanto assim de calmantes. E lembrei que eu também tinha o meu que fica na cabeceira da minha cama. É uma automedicação, mesmo sendo indicada por vários terapeutas. Chama-se “Viktor Frankl e o princípio ativo Logoterapia”, sua história de vida, depois retratada em “Em Busca de Sentido” (Ed. Vozes, 2009), seu livro mais conhecido. A obra conta suas motivações para manter-se vivo nos campos de concentração nazista durante a 2ª Guerra Mundial.Mesmo diante das maiores maldades da humanidade, mesmo diante das absurdas dificuldades diárias, Viktor Frankl ainda encontrava motivações para acordar todos os dias. No livro, ele explica que “apesar de que as condições, tais como a falta de sono, alimentação insuficiente e várias tensões mentais podem sugerir que os presos eram obrigados a reagir de determinadas maneiras, em última análise, torna-se claro que o tipo de pessoa que o prisioneiro se tornou foi o resultado de uma decisão interior, e não o resultado de influências do acampamento sozinho”.O que Frankl defende é quando encontramos nosso verdadeiro propósito de vida, todos os outros problemas se tornam paisagem. “Todos têm sua vocação ou missão na vida. Todos deveriam executar um trabalho concreto que tenha grande significado pessoal. Desta forma, esta pessoa não poderia ser substituída já que seu propósito seria tão único quanto a sua oportunidade de transformá-lo em realidade”.Pessoas que pensam e agem assim se tornam empreendedores de suas vidas. Passam a ter missão, visão, valores, planos, objetivos, indicadores e metas. Muitos ainda conseguem alinhar seu propósito de vida a uma oportunidade de negócio.Desde a infância, Rolim Amaro sonhava em voar assim como seu tio, piloto de avião no interior de São Paulo. Trabalhou, juntou dinheiro, fez curso de pilotagem e se tornou piloto. No início, fazia de tudo, até transportar gado em seu avião na Amazônia, pois sabia que tinha nascido para voar. Anos depois se juntou a TAM e, com o tempo, se tornou seu principal empreendedor. Aquele sorriso que abria quando esperava os passageiros no tapete vermelho na entrada da aeronave não era só para os seus clientes, era de satisfação por estar cumprindo um propósito de vida que era só dele.“Só trabalha duro, no sentido da palavra, quem não gosta do que faz. Por isto, graças a Deus, nunca precisei trabalhar”, ele costumava dizer. As moças saíram muito animadas com a ideia do propósito das balas calmantes. E eu já estou ansioso para ver o produto no mercado. Acho que, para ser franco, de vez em quando, vou precisar de algumas… Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).   

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