As Merys, Maris e Marias da minha vida

21 de outubro de 2013
Compartilhe

Fiquei  pensando em nomear esse post como ‘As mulheres da minha vida’.  Mas, pela pressão de tempo, achei que não iria conseguir incluir e até lembrar todas as mulheres maravilhosas (começando por minha mãe, irmã e avó) que têm compartilhado minha vida. E este título aqui foi um que me veio faz um par de semanas… Então resolvi aproveitar a oportunidade para fazer este homenagem.

Da primeira Maria mal me lembro já que foi quando eu era pequena e minha mãe estava grávida de seu último filho, meu irmão menor. Mas, à distância, lembro-me da carinha sorridente, da boca com metade dos dentes faltando e a outra metade recuberta de ouro – como é a costume dos indígenas na Guatemala -, do corpinho magro mas musculoso, do ‘corte’ e ‘huipil’ (vestido tradicional) coloridos,  e das mãos fortes que cuidaram da nossa casa e alimentação.

“Foi ela quem salvou teu irmão quando o doutor me mandou manter repouso total depois do primeiro mês de gravidez.”A salvação foi uma receita de água fervida com banana da terra que minha mãe tinha que tomar todo dia e que jura que foi o que fez com que ela não tivesse um aborto espontâneo.

A outra Maria apareceu anos mais tarde, numa das empresas que eu trabalhava. Ela vestia sempre um uniforme preto com avental branco e um par de bochechas rosas e sorridentes. Aparecia todo dia com cafezinho fresco de manhã e de tarde e deixava aquele sopro de felicidade que parecia estar sempre com ela. A Maria era famosa por ter algum sexto sentido que fazia ela ficar ainda mais vermelha quando estava perto de alguma mulher grávida (alias,  foi ela que descobriu várias gestações antes das próprias mães) e pelas refeições que ela fazia e compartilhava com o resto do escritório. Foi ela quem me salvou quando num de meus surtos resolvi mudar de apartamento para um que ficava numa cidadezinha turística (perto do trabalho), mas no meu entusiasmo não reparei que não tinha nem fogão nem geladeira (na Guatemala os apartamentos costumam ser equipados quando a gente aluga). Então, recorri aos milagres da Maria, e todo dia ela trazia meu almoço que ela fazia na casa dela.

A próxima foi Mary,  no Sri Lanka,  menor do que as outras Marias,  mas não menos poderosa e generosa.

“Hi! I’m Mary!” (Oi! Sou Maria!) falou no primeiro dia que me mudei para meu apartamento (ainda completamente desprovido de móveis) e ela bateu na porta. Mary trabalhava no apartamento de baixo mas ficou sabendo que tinha uma pessoa nova em cima e não desperdiçou nenhum minuto para oferecer seus serviços. Ela me ajudou a conseguir alguém que cuidasse de meu apartamento e nos finais de semana em que eu ficava sozinha vinha me visitar e mostrar como se faziam os deliciosos curries e panpadans. Falava pouco inglês mas isso não a impedia de ser infinitamente generosa. Nunca vou esquecer as sacolinhas que ela pendurava na minha porta (nos dias em que eu chegava depois do horário dela), cheias de tupperwears com comida quente (bem sabia que eu não fazia nada na cozinha) e com um papelzinho rasgado onde ela escrevia,

“With luv, Mery” (Com amor, Maria)

Foi Mary quem me deu uma cadeira que ela improvisou com madeira e papelão nas últimas semanas em que fiquei por lá e já tinha empacotado tudo no meu apartamento para a mudança e quem me deu um porta-cartas com dois elefantes e a palavra ‘Sri Lanka’ para levar para meu novo lar.

Recentemente, me deparei com uma grata surpresa. Faz dias que estava me perguntando qual era o nome da simpática senhora que trabalha na nossa lanchonete, que sempre me dá o bom dia com sorriso carinhoso e que sempre me estraga com seus capuccinos celestiais. Fiquei sem jeito de perguntar qual era seu nome já que faz semanas que ela está na lanchonette, e ela sempre me chama pelo nome, e não queria que ela soubesse que eu não sabia o dela. Até que o outro dia alguém veio em meu socorro:

“Bom dia Mari, posso pedir um cafezinho?”

Mari! Tinha que ter imaginado!! Aquela alma generosa e alegre que se diverte cuidando dos outros, e que não procura reconhecimento, medalhas, ou favores em troca por seu carinho e serviço.

É para todas essas incríveis Mery’s, Mari’s e Marias que tenho tido a sorte de conhecer e que me lembram do que a vida é feita que eu quero dedicar este post hoje.

 

Nathalie Trutmann, Chief Magic Officer (CMO) da FIAP, é responsável por identificar e criar experiências encantadoras que possam oferecer, aos alunos, oportunidades de crescimento, transformação e evolução em sua vida pessoal, acadêmica e profissional. Graduada pela University of California, San Diego (EUA), MBA Internacional em Administração de Empresas pela INSEAD (França). Dezoito anos de experiência internacional em marketing e novos negócios nos Estados Unidos, Ásia e América Central. Sólidos conhecimentos em empreendedorismo digital e de TI. Autora da Plataforma Brasil20.org – que cobre perfis e experiências de empreendedores brasileiros –, do livro “Manual para Sonhadores” (editora Leya) e coautora do livro “Empreendedorismo de Alto Impacto” (editora Évora). Membro do DWEN, grupo de mulheres empreendedoras da Dell. Diretora-fundadora do grupo executivo 85 Broads. Responsável pela parceria da FIAP com Singularity University (SU). Embaixadora da SU para o Brasil.

 

 

 

Nosso site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.

Prosseguir