Lições do Memorial da América Latina

3 de dezembro de 2013
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Mais uma vez, um bem público sofre com o descaso daqueles que deveriam tratá-lo com profissionalismo e eficácia que o mesmo merece. Desta vez, foi o Memorial da América Latina, mais precisamente o Auditório Simón Bolivar. Quem teve a oportunidade de conhecer este espaço, com certeza ficou impactado com o ambiente criado pelo gênio Oscar Niemeyer e com obras da jovem de 100 anos, Tomie Ohtake.

A cobertura jornalística nos trouxe notícias que podem nos lembrar e ensinar. São fatos que podem acontecer (e acontecem) com diversas organizações. Que podem acontecer com a sua organização. E se fosse o ambiente das informações de sua organização? Ela está preparada para enfrentar uma situação parecida?

Vejamos o que aconteceu, e tomara que aprendamos a lição.

a. Alvará estava vencido há 20 anos
O alvará do Corpo de Bombeiros estava vencido há 20 anos e estavam providenciando sua atualização. Pura balela. É inacreditável. Um elemento legal, mínimo necessário, não existia. O mais incrível é que o ambiente estava funcionando normalmente. Mas, independentemente da fragilidade da fiscalização, a organização tem que se autofiscalizar. Claro que a prefeitura tem uma culpa enorme por não realizar a fiscalização. Afinal, é um dos monumentos da cidade de São Paulo e não vale a desculpa de existirem poucos fiscais. Mas, a organização tem que, antes de tudo, cuidar de si mesma.

b. Todos os prédios e obras têm seguro, afirmou o presidente do Memorial.
Esta é uma afirmação ingênua, ignorante ou de má-fé? Tomara que seja ingênua. O fato de ter seguro não elimina a necessidade de ser ter uma avaliação atualizada das condições físicas do prédio realizada pelo Corpo de Bombeiros ou por especialistas. A ameaça que um seguro cobre não tem nada a ver com a ameaça da destruição pelo fogo. O seguro cobre a parte financeira. Não cobre as vidas e as perdas imateriais.

c. Hidrantes não estariam funcionando
Simples. Não se faziam testes regulares. Um simples teste mostraria falhas como esta.

d. O acesso ao auditório foi difícil
Da mesma maneira que o item anterior, testes não eram realizados. Não foi feita nenhuma simulação para avaliar como e durante quanto tempo a brigada de combate imediato conseguiria chegar aos diversos pontos do auditório.

e. Brigadistas teriam usado extintor de água em lâmpada elétrica
Os bombeiros relataram que brigadistas teriam usado extintores a base de água para combater fogo provocado por eletricidade. Falta total de treinamento da brigada. Isto é, a Brigada existia, mas sem preparo adequado.

f. Uma lâmpada estourou e saíram fagulhas
Material de fácil combustão não deveria ser utilizado ou, neste caso, lâmpadas deveriam ter uma segunda proteção para o caso de falhas. Mais uma vez, demonstram a não existência de simulações e estudo dos riscos do ambiente.

g. Fumaça invade estúdios e corredores da Rede Record
A Rede Record é vizinha do Memorial e mesmo o fogo não sendo nas suas instalações, ela sofreu com o incêndio do vizinho. Estúdios tiveram que ser abandonados e ocorreu impacto nas atividades operacionais, isto é, na programação da Rede Record. Isto nos lembra e ensina que nossa organização pode estar bem preparada, mas se nossos vizinhos não estiverem poderemos sofrer com a fragilidade deles.

h. Tomie Ohtake pretende refazer a obra
Assim que seu filho lhe deu a notícia de que sua obra, uma linda tapeçaria de 70 metros de comprimento, tinha sido destruída pelo fogo, Tomie Ohtake decidiu que iria refazer a obra. Uma lição de vida.

Não é bom que situações como esta do incêndio do Auditório do Memorial da América Latina em São Paulo aconteçam. Mas, já que aconteceram, que todos nós aprendamos e nos lembremos de algumas lições e que nossas organizações ganhem com isto.

Como está a sua organização?

*Edison Fontes. Mestre em Tecnologia, possui as certificações internacionais de CISM, CISA e CRISC. É consultor, gestor e professor de Segurança da Informação dos cursos de pós-graduação da FIAP. Compartilha seu conhecimento como colunista do site Information Week. Autor dos livros: Políticas e Normas para a Segurança da Informação (Editora Brasport), Clicando com Segurança (Editora Brasport), Praticando a Segurança da Informação (Editora Brasport), Segurança da Informação: o usuário faz a diferença! (Editora Saraiva) e Vivendo a Segurança da Informação (Editora Sicurezza). Atua na área de Segurança da Informação desde 1989.

 

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