Mercado de trabalho em TI para desenvolvedores

9 de dezembro de 2013
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Muitos, quando escutam a palavra desenvolvedor, logo associam com aquele rapaz com as calças abaixo da linha da cintura, MP3 no ouvido, boné na cabeça, que enfeita sua mesa com uma grande quantidade de canecas, bonecos e outros adereços.

Normalmente, é encontrado diante do computador, girando uma caneta de um lado para o outro com uma das mãos e, com a outra, mexendo no mouse ou acionando as teclas “alt+tab” para alternar as telas entre uma ferramenta de desenvolvimento e o Facebook, o Twitter  ou o Google, com o objetivo de caçar uma solução para algum bug na aplicação que está desenvolvendo.

 

Atualmente, as atividades e os perfis dos profissionais de desenvolvimento de sistemas encontrados nas fábricas de software são bem diferentes do que nos primórdios da carreira. O organograma, hoje, é povoado por analistas de requisitos, analistas de testes, arquitetos, web designers, analistas de homologação e, claro, desenvolvedores, sem esquecer muitos outros perfis que aparecem todos os dias.

Há poucas décadas, os analistas de sistemas eram os responsáveis por praticamente todo o ciclo do desenvolvimento de uma aplicação. Eles atuavam, em sua maioria, com plataforma main frame, possuíam uma maturidade profissional e pessoal maior do que a dos atuais desenvolvedores, além de um conhecimento tecnológico mais generalista. Não é raro encontrar saudosistas ecoando que naquela época a qualidade dos produtos eram superiores e entregues no prazo.

 

As mudanças nos perfis e nas carreiras são tão rápidas quanto a velocidade do avanço da tecnologia. Da mesma maneira que aparecem novas tecnologias todos os dias enterrando as antigas, com as carreiras não é diferente. Aparecem novos perfis e uma série importante de carreiras é extinta indiscriminadamente, incluindo algumas que já tiveram grande importância, como digitadores e operadores.

Uma curiosidade, que em outros tempos era incomum, vem caracterizando as tribos dos novos profissionais na carreira de desenvolvimento de sistemas que são o aparecimento de “igrejas”. É comum encontrarmos os seguidores do JAVA que se tornaram radicalmente contrários aos rivais devotos do .NET, imprimindo extensas discussões, querendo provar  que é muito melhor desenvolver em JAVA do que em .NET; e facções muitas vezes xiitas pelo SQL que pregam que o ORACLE está ultrapassado.

Estas alterações de perfis e de mercado apresentam algumas distorções perversas para os profissionais. O que, aparentemente, parece ser uma boa opção para se ganhar dinheiro, pulando de uma empresa para outra por alguns reais a mais no final do mês, vem se mostrando uma atitude arriscada a longo prazo, pois além da falta de identidade corporativa (o que prejudica a carreira) a vida útil de um desenvolvedor vem diminuindo a cada dia.

É muito comum que empresas conhecida como “consultorias” (que hoje são as grandes demandadoras deste tipo de mão de obra), dispensem desenvolvedores mais velhos e mais caros por um bando de garotos mais “micreiros” e mais baratos. A lógica irracional (e sempre incorreta) visa colocar um maior número de juniores mais baratos para fazer o mesmo trabalho que um sênior mais caro faria. E – alguns ainda acreditam – em menos tempo!

Outra alteração importante neste mercado são as facilidades e a comoditização das aplicações. Criar uma página WEB com loja virtual não é mais um trabalho para um grande especialista. Diversos provedores disponibilizam ferramentas que auxiliam  até um leigo a criar e publicar sua loja virtual.

No mundo corporativo, a situação vem se definindo. Enquanto fora das linhas brasileiras a aquisição por grandes sistemas customizáveis é uma tendência, por aqui a contratação de desenvolvimento de sistemas à la carte ainda é muito presente.

 

A grande dúvida do CIO é optar entre ter o domínio do código fonte por um custo relativamente baixo mas com o risco de ter sistemas rapidamente desatualizados e obsoletos, ou ficar nas mãos dos grandes fabricantes que apesar de atualizar e desenvolver as aplicações constantemente, cobram valores muitas vezes impraticáveis por suas atualizações.

Fazendo uma projeção para daqui a alguns anos, a tendência é encontrarmos o pessoal do main frame com os cabelos mais brancos que hoje, mas ainda pilotando seu velho e bom COBOL; as soluções empresariais cada dia mais robustas e líderes de mercado como acontece com o Windows; e um monte de desenvolvedores sonhando com a possibilidade de derrubar ou se alinhar a alguma “igreja” existente. Ou mesmo àquelas que existirão.

 

O fato é que a cada dia geramos mais e mais linhas de códigos, para mais e mais dispositivos diferentes, novas linguagens, novas soluções e, claro, novos milionários. Obviamente, este não é um ciclo infinito e estará sempre em constante mutação.

Se o profissional que desenvolvia um site de internet no início do milênio aparecesse para trabalhar nas empresas hoje, muito dificilmente conseguiria utilizar seu conhecimento para as soluções demandadas atualmente. Fica claro que os conhecedores das soluções atuais, pouco (ou quase nada) terão valor daqui a poucos anos com as novas tecnologias batendo à porta.

Se o modelo do analista de sistemas dominante há poucas décadas foi extinto, não dá para acreditar que os modelos atuais de carreiras não sofrerão mutações e aperfeiçoamento. O importante é conseguir não entrar na piração de ter que aprender tudo a todo instante. Muito menos achar que aquilo que se conhece será eterno.

É certo que o desenvolvedor que tem seu foco único no desenvolvimento de linha de código sem uma visão ampla da solução e dos sistemas, com certeza, em não muito tempo, será peça de museu.

Alberto Marcelo Parada. Bacharel em Administração de Empresas e Análise de Sistemas, com especialização em Gestão de Projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPMBraxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente, integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP. Diretor de Projetos Sustentáveis da Sucesu-SP

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