O que importar dos Estados Unidos

2 de janeiro de 2014
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O.K. Já fui para os Estados Unidos com outros interesses. Notebooks, outlets, Disney. Até já fui por motivos mais, digamos, “facebucáveis”: museus, universidades e maratonas. Mas agora o que mais me interessa, depois que recebo o carimbo da imigração americana, são os novos modelos de empreendedorismo exponencial, tema que defendi na minha tese de doutorado.

Nesta abordagem, uma empresa se posiciona como plataforma que apoia novos negócios de outros empreendedores e, no final, todos ganham. A empresa plataforma passa a oferecer produtos e serviços mais inovadores lançados pelos empreendedores parceiros.

Muitos desses modelos de empreendedorismo exponencial já foram importados para o Brasil. Alguns, diretamente, e outros por meio de clones. Mas três deles merecem uma maior atenção dos empreendedores, pois ainda não são famosos por aqui.

Cansado de comer comida industrializada, John Mackey resolveu criar, em 1980, no Texas, um mercado só de alimentos naturais e integrais, antes disso virar algo bacana. Sua primeira loja quase faliu, pois ninguém entrava para ver um monte de alimentos “feios”. Em vez de desistir, criou a primeira superstore de alimentos naturebas. O desafio era encher a loja com produtos bacanas, já que não comprava (e não compra) nenhum produto que tenha conservante, acidulante ou outro “ante” artificial.

Assim, não vai encontrar nenhuma marca de Super Bowl nas gôndolas, mas um monte de produtos inovadores produzidos por empreendedores da região. A Whole Foods Market do John ajuda na gestão da qualidade, embalagem e logística dos produtos. O empreendedor se concentra em fazer algo que seus vizinhos irão adorar consumir.

O segundo foi fundado em 1998 pelo empreendedor Kim Smith e pelos investidores John Doerr e Brook Byers. A ideia é simples: um fundo de capital de risco filantrópico focado em um único nicho: educação para pessoas necessitadas. A NewSchools é um fundo de capital de risco tradicional que busca empreendedores na área de educação, com a única diferença de que conta com grandes investidores na retaguarda e empreendedores que sonham grande na vanguarda.

Se gosta de bons negócios ou de educação, reserve algumas horas para admirar a lista de empresas que receberam investimento da NewSchools. E faça a sua aposta em quem será a próxima Teach for America ou a Khan Academy, dois investimentos do fundo.

E ainda tem a novata que já está sendo importada para o Brasil. Fundada em 2001, a empresa já está em 140 países com mais de 14 milhões de clientes semanais. Quem está fora acha que é mais uma nova onda de aeróbica. Quem está dentro acha que é uma balada em que também se faz exercício (ou vice-versa). Mas a Zumba Fitness, empresa fundada pelo colombiano radicado nos Estados Unidos, Alberto Perez, é uma poderosa plataforma para professores de dança que também são empreendedores.

Cada professor organiza as aulas, vende produtos Zumba e ainda tenta ter impacto social, convidando pessoas em processo de recuperação da saúde para se juntar à festa. Não há “gordinhos” ou gente “com celulite” ao lado de pessoas carecas pela quimioterapia. Todos são convidados!

Mas, no final da festa, não se importe com os Estados Unidos ou qualquer outro país. Eles se viram. Mas importe os bons exemplos que importam para você.

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

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