Calça jeans x terno e gravata

7 de julho de 2014
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Há vinte anos, quando entrávamos em uma grande empresa ou em um grande banco, era impensado encontrar alguém que não estivesse “bem vestido” (pelo menos para os padrões da época): terno, camisa social e gravata. Esse ”código” valia para todo mundo, desde os finados escriturários até o presidente da empresa, todos estavam obrigatoriamenteuniformizados.

Para as mulheres, era quase mandatório o uso de saia, camisas com pouca cor e cabelos necessariamente bem penteados e, de preferência, presos. Maquiagem somente em raras ocasiões e desde que bem discretas.

Para os homens, a gravata era um item obrigatório e a exigência era levada ao extremo. Em uma época em que a gravata de crochê era moda, chegou-se ao ridículo de ser usada até com camisa polo. Alguém que aparecesse de jeans e camiseta era tratado como pessoa de nível inferior.

O ditado que o tempo é o senhor da razão também se mostrou presente neste caso. Com a enorme banalização do terno e da gravata, além do aumento assustador de ladrões utilizando este tipo de vestimenta, ocorreu a mudança do conceito de estar “bem vestido”. O “casual” foi ganhando espaço e hoje, em muitas empresas e até em alguns bancos (o último reduto da obrigatoriedade do social clássico), é considerado mais estranho encontrar alguém de terno e gravata do que de calça jeans e camiseta.

A chegada da geração Y no mercado de trabalho, com muita propriedade e bom humor, está aposentando definitivamente o conceito de que estar vestido de maneira formal é pré-requisito de seriedade ou profissionalismo. Os grandes ídolos desta geração consagraram o estilo jeans e a camiseta.

Mas, os que acreditam que não existe mais a discriminação pela vestimenta que se usa estão enganados. Infelizmente o preconceito não acabou. É fácil encontrar pessoas que torcem o nariz quando se deparam, em uma reunião, com um grupo de profissionais vestidos de jeans e de camiseta. E ainda confundem a pouca idade e informalidade com falta de profissionalismo e, mais chocante ainda, falta de dinheiro.

Situações que podem ser chamadas de cômicas (para não dizer trágicas) repetem-se diariamente, principalmente nas empresas de tecnologia. Os “preconceituosos profissionais” mudam radicalmente sua postura quando descobrem que aquela pessoa que segundo ele não está adequadamente vestida para uma reunião, aparentando ser mais um pobre coitado do que um investidor é, na verdade, o cliente que poderá fechar o contrato e irá ajudá-lo a bater suas metas e trazer para a empresa o projeto que mudará a situação financeira da companhia.

Contudo, por mais que as mudanças aconteçam numa velocidade grande, muitas até carregadas de exageros que vêm transformando tudo em “politicamente incorreto”, têm um lado positivo: são melhores estas oscilações e exageros do que a possibilidade (por mais remota que seja) da falta de liberdade de opinião e expressão.

O que é certo é que todos devem respeitar as pessoas, seus costumes e suas preferências, e isso não deve, em hipótese alguma, servir de desculpa para justificar uma falta de competência, profissionalismo ou comprometimento.

O respeito ao próximo deve ser tanto para os garotos que chegam ao mercado de trabalho vestindo suas calças jeans, como para o pessoal que já está na estrada há um bom tempo e que, mesmo despidos de pré-conceitos, continuam a curtir um bom terno e gravata.

O fato é que todos estão aprendendo com o mundo colaborativo. Quanto mais conectados estivermos, melhores serão os resultados para todos, em todos os sentidos. Dessa maneira, o ideal é extrair o melhor de cada um. Não há dúvida que o pessoal de calça jeans é criativo e inovador, mas não se pode descartar a experiência e a habilidade de quem carrega a história de fazer bem feito, por longo tempo, projetos de sucesso.

 

Alberto Marcelo Parada. Professor de MBA na FIAP. Palestrante e articulista, formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos e outsourcing. Experiência de 20 anos ministrando treinamentos na capacitação de executivos, média gerência e níveis operacionais; executivo com mais de 25 anos de experiência em implantação de soluções de TI para grandes empresas.

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