Não tenha sócios, tenha parceiros

15 de junho de 2015
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Sociedade? Sócio? Só! Antes só do que mal acompanhado é a máxima de boa parte dos empreendedores brasileiros. Ainda há muitos mitos, preconceitos e dúvidas sobre a opção de ter sócios porque existe uma percepção de que há mais experiências ruins do que boas. Mas o maior problema não é a sociedade em si, mas o modo como ela é feita e gerenciada. Mesmo com uma legislação diferente, os empreendedores norte-americanos têm muito a nos ensinar, começando pela discussão sobre como o termo sócio é utilizado por lá. Se fizer uma rápida tradução de sócio para o inglês, aparecerá o termo partner. Mas, se traduzirmos partner para o português, o termo que surgirá é parceiro. E, no fundo, é isso que os sócios deveriam ser.

Como construir uma verdadeira parceria entre os sócios? Confira a seguir algumas reflexões sobre o tema:

 

  1. Reúna o visionário e carregador de piano.No início de quase todas as grandes empresas, sempre houve dois papéis principais iniciais: alguém que identificava oportunidades e outro que as transformava em realidade. Steve Jobs, Walt Disney e Sam Walton foram visionários, mas quem carregava o piano no início da Apple, Disney Studios e Walmart eram Steve Wozniak, Roy Disney e Bud Walton, respectivamente. “Eu, provavelmente, não sou o melhor negociador do mundo. Não tenho a habilidade de espremer o último dólar. Mas felizmente, meu irmão Bud, que tem sido meu sócio desde o início, herdou a habilidade de negociar de nosso pai”, disse Sam Walton, explicando como a empresa mantinha os custos baixos. A soma de um sócio e seu parceiro deveria dar uma soma muito superior a dois, especialmente no início das atividades. Faça a conta para a sua empresa!

 

  1. Seja o Bill e o William. Quem dá o show é o Bill, mas quem declara o imposto de renda é o William Henry Gates III. Empreendedor é o Bill. Está na empresa para executar uma ou mais funções no negócio. Sua remuneração deveria ser  compatível com a de um funcionário em situação semelhante. Se a empresa der lucro, aí entra o lado William, no papel de acionista, que recebe o proporcional à sua participação na sociedade. Da mesma maneira, dois sócios com funções diferentes na empresa não deveriam receber o mesmo valor de remuneração.

 

  1. Não pense em papai e mamãe.Todos sabem mas nem por isso perdem a mania. Dentro da empresa não há papai, mamãe, titia. Todos são colaboradores, executivos e funcionários. Em outras palavras, todos contribuem executando funções para desenvolver o negócio. A empresa pode ser da família, mas a família não entra no negócio. “O que é bom para você não é necessariamente bom para a empresa e vice-versa. Na Cisco, eu tomei todas as decisões pensando no que era bom para a empresa e isto contribuiu decisivamente para arruinar meu casamento e minha saúde”, diz Sandy Lerner, que junto com o então marido Leonard Bosack, fundaram uma empresa que atualmente fatura US$ 48 bilhões. Alguns anos depois de ter fundado a Cisco, ela foi demitida mesmo sendo uma das principais acionistas. Pouco tempo depois, se separou do marido, que também se afastou do negócio.

 

  1. Si vis pacem, para bellum.Não entendeu? Nunca houve e nunca haverá sociedade sem problemas entre os sócios. Daí, se quer a paz, prepare-se para a guerra! Como estar em paz com seus sócios? Ter respostas para as perguntas de Dharmesh Shah, cofundador da Hub Spot, fará com que você economize em remédios para dores de cabeça. Qual é a lógica de distribuições das cotas (ações) da empresa? Quais os interesses dos sócios na empresa? Como as decisões serão tomadas? O que ocorre se um dos sócios sair? Algum sócio que exerce funções na empresa pode ser demitido? Por quem? Por quais motivos? Se algum sócio sair, poderá abrir um negócio concorrente? Quais serão os valores e princípios da organização? Tenha estas respostas no início da sociedade e as documente em um acordo de cotistas (acionistas). Para convencer seus sócios sobre esta necessidade, solte mais uma frase em latim: Pacta sunt servanda. Em bom português: o que é combinado não é caro!

 

  1. DR sempre.Si vis pacem, para bellum e Pacta sunt servanda não trarão bons resultados se os sócios não discutirem a relação constantemente. O debate é fundamental para que estejam alinhados com o desenvolvimento da empresa. Nos Estados Unidos, é comum os empreendedores recorrerem a conselheiros e mentores externos, que trazem uma opinião “de fora”, talvez mais imparcial, sobre quais deveriam ser as melhores considerações nas tomadas de decisões. DR ajuda a consolidar os pontos fortes e a melhorar os pontos fracos da empresa e a relação entre os sócios.

 

 

Agindo assim, você nunca terá sócios no seu negócio. Só parceiros!

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

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