Quer empreender? É melhor correr!

3 de novembro de 2015
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A relação entre negócios e esportes sempre foi uma constante. Vários filmes com temática esportiva são usados em treinamentos corporativos. É possível discutir o papel da liderança exibindo o filme Invictus, que mostra como o líder Nelson Mandela usou o rúgbi para unir o povo da África do Sul. Ou então falar de empreendedorismo tomando como exemplo o time de bobsleigh (esporte de inverno) mostrado no filme Jamaica Abaixo de Zero.

Talvez nada seja tão útil e prático para o empreendedor quanto a atividade de corrida amadora. Correr é uma forma de empreendedorismo. Só depende do indivíduo. É possível percorrer pequenas distâncias em torno do quarteirão aonde mora e daí ir aumentando os trechos, velocidades, terrenos e cidades. A princípio, correr é uma atividade que pode ser feita por um custo razoavelmente baixo. São necessários apenas exames médicos preliminares, um tênis adequado ao tipo de pisada e roupas confortáveis. O resto depende da disciplina de cada um.

Mas, depois de praticar um pouco, é possível correr mais e melhor. E é aí que o empreendedor precisa focar mais sua atenção. Para correr melhor é preciso:

Ter metas

Quer emagrecer? Reduzir o colesterol ruim? Percorrer uma distância pré-determinada? Em quanto tempo? Para que a pessoa tenha uma meta, é preciso que determine um número a ser atingido. Boa parte dos empreendedores começa seus negócios sem metas – e por isso mesmo se perdem. Corredor que não tem meta perde o foco, pois não sabe aonde quer chegar. E daí não tem a motivação necessária para chegar a nenhum lugar.

 Ter técnica de treinamento

O nome já diz tudo. Corredor precisa treinar. Aprender métodos e praticá-los. A técnica ajuda a atingir um objetivo de forma mais fácil, rápida e eficiente. É preciso saber qual tênis e qual roupa usar, dependendo do desafio. É preciso se alimentar adequadamente e nos momentos corretos – antes, durante e depois da corrida. É preciso saber dar as passadas certas. É preciso até saber respirar direito. Se o sujeito não tem método e não treina, a corrida será agonizante, cheia de dores e fatos inesperados. Quantos empreendedores não têm essas mesmas reclamações?

Ter um técnico

Dá para sair correndo sozinho? Dá! Dá para aprender as técnicas pela internet? Dá. Muita gente faz desta forma. E alguns se dão bem. São autodidatas. Aprendem as técnicas sozinhos. Mas mesmo estes podem se beneficiar de um técnico de corrida ou personal trainer. Ter um personal não é um luxo. Há muitas equipes de corrida em que você é treinado seguindo suas limitações e metas. O personal irá orientá-lo sobre suas metas e fará com que você domine as técnicas de corrida adequadas ao seu biotipo. Mas o mais importante é que irá cobrar sua disciplina em treinar as técnicas e atingir seus objetivos. No empreendedorismo, o personal trainer recebe o nome de conselheiro ou mentor. Todo empreendedor precisa ter pelo menos um para orientá-lo, discipliná-lo e cobrar os resultados esperados.

Ter planejamento de treino e corrida

Se você se conhece, se sabe o que quer e como quer, fica mais fácil definir o treinamento. Na corrida, o que permitiu a popularização do esporte entre os amadores foi a planilha de treino. Com esse instrumento, você sabe o que deve fazer a cada dia. Não fica perdido sobre sua rotina, nem fica com a consciência pesada quando não conseguir cumprir o que foi programado. No empreendedorismo, a planilha se chama plano de negócio. O bom plano não é um punhado de papel cheio de palavras bonitas, mas algo que orienta o empreendedor sobre quais são e como atingir os objetivos pré-determinados.

Saber que você é o seu principal competidor

Na corrida amadora, ninguém, pelo menos no início, fica pensando em ganhar a corrida. Afinal, você não nasceu no Quênia. No começo dos treinos, a única pessoa que pode derrotá-lo é você mesmo. Quando aprende a correr, seus competidores, mesmo que não saibam, são seus amigos e colegas de corrida. Você passa a competir com pessoas que estão mais próximas. Mais tarde, vai querer passar um sujeito que está na sua frente, e depois o gordinho. E vai ficar bravo quando um velhinho deixar você para trás. Só quando estiver voando, você começará a pensar em ganhar a corrida. Empreendedores precisam seguir a mesma lógica. Em muitos negócios iniciantes, o principal competidor é você mesmo. Depois, são empresas que estão mais próximas. Só depois que estiver dominando tudo, poderá conquistar a liderança de mercado.

Entender que o treino é mais importante do que a corrida

Todos os bons corredores, amadores ou não, sabem que é treino é mais importante que a corrida. E que a corrida é só o resultado do treino. E o bom treino exige meta, domínio das técnicas, treinador, planejamento, treinamento e um corredor que acredita que pode fazer sempre melhor. Fazer um bom tempo é só o resultado dessa disciplina. O mesmo vale para o empreendedor: o negócio em si é mais importante do que o resultado. O resultado é só a consequência de um bom negócio.

Deixei a parte principal para o final. A corrida faz com que os dois lados do cérebro funcionem a pleno vapor. Refletir sobre um desafio ou problema durante a corrida pode trazer soluções mais criativas e mais bem estruturadas para a sua empresa.

E, se tudo isto ainda der errado, pelo menos você terá uma vida mais saudável.

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

 

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