Por que um bilionário precisa tomar empréstimo?

15 de fevereiro de 2016
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Decisões de Captação que criam valor.

A apresentadora famosa parecia impaciente para perguntar para o homem, considerado como o mais rico do país, por que tendo tanto dinheiro ele precisaria tomar dinheiro emprestado?  O entrevistado, de forma muito educada, informou que o empréstimo não era um presente e como tal teria que ser liquidado, caso contrário sofrearia as consequências pessoais e empresariais.

Uma resposta educada e talvez adequada para a audiência na ocasião, porém insuficiente para alguém como você,  amigo gestor, que tem como missão aumentar o valor da empresa no longo prazo, dado um nível de risco.

Uma empresa investe recursos em ativos que devem proporcionar fluxos de caixa futuros para empresa.  O valor presente desses fluxos de caixa descontados a uma taxa adequada, deve ser maior que o custo do capital ou dos recursos utilizados para investimento.

E parece que é aí que nossa simpática apresentadora tem dúvidas… Se alguém é rico e tem recursos próprios, por qual motivo   vai pedir dinheiro emprestado?

Para ficar mais rico… e como isso acontece?  Basicamente por duas razões  :

1-Redução do pagamento do imposto de renda;

Uma empresa pode investir recursos dos acionistas ou de terceiros para obter lucro e criar valor.  Se utiliza apenas recursos dos acionistas, a legislação da maioria dos países não considera como dedutível do lucro,  o custo de capital do acionista. Assim ao utilizar recursos de terceiros e deduzir do lucro a parcela de juros incorrida como despesa, a empresa estará reduzindo o valor de imposto de renda pago e em conseqüência aumentando o valor da empresa.

2-Possibilidade de alavancar ganhos; (a Alavanca do Arquimedes lembra? )

Responda meu leitor, se você tivesse que decidir qual das duas alternativas você escolheria?

  1. a)      Investir  $1000 com recursos próprios para obter um lucro de  $200, obtendo 20% de retorno , ou
  2. b)      Investir $500 em recursos próprios, tomar $500 de recursos de terceiros pagando 10% de juros e obter $150 de lucro ou seja 30% de lucro sobre os $500 investidos?

È claro que você preferiu a alternativa (b), pois com ela, além de diversificar seu investimento colocando os outros $500 em outros projetos, você estaria utilizando recursos de terceiros que, nesse caso,  tem um custo menor que o retorno de seu projeto. Isto é a famosa alavancagem financeira .

Como tudo na vida, o capital de terceiros tem seu lado negativo e nesse caso, quanto mais capital de terceiros no empreendimento, maior é o risco financeiro da empresa (risco de não honrar os compromissos financeiros) e aí, quanto maior o risco, maior será o retorno que os emprestadores vão cobrar para emprestar o dinheiro.

Assim, além de seu projeto apresentar um retorno maior que o custo de empréstimos, há um limite para o endividamento com terceiros e esse limite é dado pelo ponto mínimo da curva de custo médio ponderado (entre custo de capital próprio e custo de capital de terceiros).

Em termos de prazo de financiamento, os recursos de terceiros devem estar adequados aos ativos/investimentos que eles vão financiar, evitando-se o descasamento entre maturidade do projeto e necessidade de liquidação dos recursos obtidos para seu financiamento.

Finalizando, o homem mais rico do país aposta, e não poderia ser diferente, que seus projetos /ativos irão render muito mais que o custo de sua  dívida , e assim seus lucros e o valor de suas ações irão se valorizar. Isso é criar  valor.

Clayton Nogueira é diretor financeiro para a America Latina da Valspar Corporation. Graduado em Administração de Empresas com mestrado em Controladoria pela USP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, conselheiro fiscal e de administração certificado pelo IBGC. É professor de Planejamento e Controle na FIAP e da FIA-USP, conselheiro fiscal da Abrafati e diretor vogal no IBEF-SP

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