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Os dilemas éticos da inteligência artificial 

Publicado

24 de outubro

dilemas eticos da inteligencia artificial
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Resumo

Em que ponto a discussão sobre ética deve começar, quando falamos de uma tecnologia de propósito geral, que amplifica a escala e a velocidade das nossas decisões, em escala pessoal e até global? Pois os dilemas éticos da IA aparecem em todo o ciclo de vida de um algoritmo, da implementação ao monitoramento.

A realidade é clara: a Inteligência Artificial não é mais uma promessa futurista. Ela já é o motor da inovação do nosso presente e está inserida em sistemas de crédito, diagnósticos médicos e na forma como consumimos informação. À medida que se torna onipresente no nosso cotidiano, torna-se urgente discutir seus dilemas éticos. 

Não se trata apenas de regular a tecnologia, mas de garantir que sua aplicação aconteça de forma justa, responsável e transparente. Precisamos vislumbrar um futuro em que a inovação é sinônimo de equidade e responsabilidade. Como afirmou o professor Carlos Piazza, em um evento da FIAP: “Sem filosofia aplicada, não há inovação que baste”.

Por que discutir ética em IA? 

Ter discussões sobre ética, em qualquer campo, é uma necessidade prática e estrutural. Muito mais quando falamos de Inteligência Artificial (IA), uma tecnologia de propósito geral que amplifica a escala e a velocidade das nossas decisões. Em milissegundos, um sistema de IA pode analisar milhões de dados e tomar ou oferecer uma decisão que afeta a vida de indivíduos, grupos e até nações.  

Essa capacidade de escala exige um nível de governança que nunca foi necessário para as tecnologias anteriores. 

O cerne da discussão ética está na transferência de poder de decisão. Quando um algoritmo é criado para decidir quem obtém um empréstimo, qual currículo avança em um processo seletivo, ou mesmo qual paciente deve ser priorizado no atendimento, a forma como ele será projetado e os dados com os quais será treinado tem implicações sérias e profundas.  

A falta de um quadro ético bem embasado pode levar a resultados catastróficos, como a amplificação de injustiças sociais e preconceitos históricos. 

Inteligência Artificial e seus impactos sociais 

A IA tem levantado preocupações sobre o futuro do trabalho e a estrutura social. “A IA vai roubar meu emprego?” é uma das perguntas mais feitas dos últimos anos no mercado de trabalho. 

Por outro lado, relatórios como os do Fórum Econômico Mundial (WEF) apontam para um cenário otimista e um saldo positivo na criação de empregos na próxima década, impulsionados pela IA.  

Embora tarefas repetitivas possam ser automatizadas, a Inteligência Artificial gera uma demanda maciça por novos cargos que exigem habilidades essencialmente humanas, como criatividade, pensamento estratégico e empatia. 

O impacto social da IA é duplo: cria novos desafios éticos, ao mesmo tempo em que oferece uma oportunidade histórica para melhorar a qualidade do trabalho, liberando o tempo das pessoas para se dedicarem a atividades mais humanas. 

Os principais dilemas éticos da IA 

Os dilemas éticos da IA são complexos e interconectados, e aparecem em todo o ciclo de vida de um algoritmo, da implementação ao monitoramento. Já falamos um pouco sobre eles neste artigo, e vamos aprofundar mais um pouco. 

Transparência e explicabilidade 

O problema da transparência surge quando modelos de aprendizado de máquina operam como “caixas-pretas”. Ou seja, o sistema entrega uma decisão precisa, mas a lógica algorítmica que levou a essa conclusão é incompreensível, às vezes até mesmo para seus criadores. 

A falta de explicabilidade (eXplainable AI – XAI) é crítica. Se um sistema de IA nega crédito a um indivíduo, reprova uma tomografia ou envia uma condenação criminal, a pessoa afetada tem o direito de saber o por quê. Para garantir isso, a XAI busca desenvolver ferramentas e metodologias para tornar a lógica algorítmica inteligível, permitindo que auditores e usuários compreendam cada variável que levou à decisão final. 

Viés algorítmico 

O viés algorítmico talvez seja o dilema mais discutido. Os algoritmos aprendem padrões a partir dos dados. Se os dados históricos refletem preconceitos sociais  existentes, o algoritmo não apenas os absorve, mas também amplifica esses vieses em suas decisões. 

Um exemplo clássico ocorre em sistemas de recrutamento, onde a IA pode penalizar currículos de mulheres, mesmo que elas sejam tão qualificadas para as vagas quanto homens. Isso porque as informações que alimentam a máquina são dados históricos e têm predominância de homens em posições de lideranças. 

Isso não é um erro do código, mas uma falha ética na escolha e curadoria dos dados de treinamento. Corrigir esse viés requer uma abordagem multidisciplinar, incluindo auditoria dos dados, ajustes de peso algorítmico e a inclusão de equipes diversas no desenvolvimento. 

Privacidade e vigilância 

A IA depende de grandes volumes de dados para funcionar. Essa dependência cria uma tensão com o direito à privacidade. Algumas tecnologias, como a Private Machine Learning (PML) e o Federated Learning (Aprendizado Federado) buscam treinar modelos sem expor dados individuais, mantendo-os no dispositivo de origem. Mas, em geral, a capacidade da IA de correlacionar informações traz grandes preocupações com a vigilância

Sistemas de reconhecimento facial e monitoramento de comportamento podem ser usados para controle social e monitoramento em massa. A proteção de dados pessoais, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD, no Brasil) estabelece o quadro legal, mas a ética exige que os desenvolvedores priorizem o “Privacy by Design”: sistemas que minimizem a coleta de dados desde a concepção.  

Autonomia das máquinas vs. responsabilidade humana 

Sistemas de IA estão se tornando cada dia mais autônomos e tomando decisões em ambientes imprevisíveis, como em carros autônomos e robôs cirúrgicos. Mas em caso de falha ou dano, quem é o responsável? O desenvolvedor, o fabricante, o operador, ou a própria máquina? 

O desafio ético aqui é garantir que a autonomia da máquina não sirva como uma zona de exclusão de responsabilidade. Os humanos devem permanecer no ciclo de supervisão e auditoria, mantendo o controle sobre as decisões de alto risco

Dilemas militares 

Chegamos ao ponto mais extremo dessa discussão: os dilemas militares da IA, centrados em Sistemas de Armas Autônomas Letais (LAWS – Lethal Autonomous Weapon Systems).  

A capacidade de um sistema tomar a decisão de tirar uma vida humana sem intervenção humana levanta questões morais, legais e de política. 

A principal preocupação é a remoção da responsabilidade humana no ato de guerra e o risco de que a velocidade da decisão algorítmica escale conflitos globais.

A comunidade internacional  debate a necessidade de proibir ou restringir o desenvolvimento de LAWS, mantendo o princípio do “controle humano significativo”. 

Princípios fundamentais para a governança responsável da IA 

Para navegar por todos esses dilemas, a comunidade global tem buscado estabelecer as bases éticas. O Relatório Belmont e as Recomendações da UNESCO são bons pontos de partida para criar uma IA ética e uma governança responsável. 

A lição do relatório Belmont 

O relatório de Belmont não é novo. Ele data de 1979 e foi criado para guiar pesquisas biomédicas nos EUA, mas se tornou uma referência para a ética em desenvolvimento algorítmico.  

Seus três princípios são um ótimo guia para a ética de dados e IA: 

  1. Respeito às pessoas (autonomia e consentimento): os usuários devem estar cientes dos potenciais riscos e benefícios dos sistemas de IA com os quais interagem, e devem ter a capacidade de revogar o consentimento para o uso de seus dados.  
  1. Beneficência (maximizar benefícios, minimizar danos): embora a intenção da IA seja sempre melhorar um sistema ou serviço, o princípio da Beneficência exige a auditoria de algoritmos para garantir que eles não amplifiquem vieses e que as implementações tragam um benefício social que justifique o risco potencial. 
  1. Justiça (equidade na distribuição de benefícios e riscos): em quem recaem os fardos e quem colhe os benefícios da IA? O mais importante é garantir que as tecnologias de IA não criem uma nova divisão, onde os benefícios da inovação são monopolizados e os riscos impostos a grupos vulneráveis. 

As recomendações globais da UNESCO 

A UNESCO criou um documento chamado Recomendações sobre a Ética da Inteligência Artificial, o primeiro instrumento normativo global sobre o tema. Essas recomendações são baseadas em valores como: 

  • Proporcionalidade e sustentabilidade: a aplicação da IA deve ser proporcional ao benefício e sustentável em termos ambientais. 
  • Diversidade e inclusão: garantir que a IA seja desenvolvida por equipes diversas e sirva à diversidade cultural e linguística. 
  • Governança e colaboração: promover a cooperação internacional e multissetorial para criar padrões e marcos regulatórios. 

A integração dos princípios do Belmont Report com as diretrizes da UNESCO oferece uma base para a criação de políticas de governança de IA em ambientes corporativos e acadêmicos. 

Organizações que promovem ética em IA 

A ética em IA não é uma preocupação apenas do setor acadêmico ou do comércio. Ela exige a colaboração de especialistas técnicos e formuladores de políticas. Diversas organizações colaboram para preencher essa lacuna, promovendo a pesquisa, a auditoria e a conscientização: 

  • AlgorithmWatch: uma organização sem fins lucrativos focada em XAI. Seu trabalho é essencial para “desmistificar” a caixa-preta e pressionar por maior responsabilidade nos sistemas. 
  • AI Now Institute: esse instituto se dedica a pesquisas aprofundadas sobre as implicações sociais da IA, especialmente em áreas como direitos civis, trabalho e vigilância. 
  • DARPA: é pioneira em programas de pesquisa de XAI, focando em desenvolver ferramentas para que especialistas possam entender, confiar e gerenciar os sistemas de aprendizado de máquina. 
  • CHAI: uma colaboração entre diversas universidades e centros de pesquisa, focada na construção de sistemas de IA que sejam “provavelmente benéficos” e alinhados com os objetivos e valores humanos. 

Preparando profissionais para o futuro 

A Inteligência Artificial não é apenas uma área técnica: é uma área de responsabilidade. Para os futuros líderes e profissionais da inovação, a capacidade de codificar é tão importante quanto a capacidade de questionar as implicações éticas desse código. 

A formação dos profissionais do futuro precisa ir além das habilidades técnicas (hard skills). O mercado de trabalho, otimista e transformador, exige profissionais com o que o Fórum Econômico Mundial chama de meta-skills: a alfabetização de dados (data literacy), o pensamento sistêmico e a ética aplicada. 

Os profissionais técnicos do futuro, como engenheiros e programadores, não podem mais se dar ao luxo de serem apenas executores. É preciso que eles sejam guardiães éticos, comprometidos em defender pilares que amplifiquem o melhor da IA e minimizem os riscos.  

Imagem de Redação FIAP

Autora

Redação FIAP

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