O que você fará quando ficar rico?

5 de setembro de 2016
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Muitos empreendedores querem abrir negócios para ficarem ricos! Mas o que farão depois que isto acontecer? Comprarão mansões? Carrões? Aviões? E outros “ões”?Por isto gosto de ler a história do Sr. Smith para minha filha de quatro anos. Não por acaso, comprei o livro “It’s a Snap” (Tundra Books, 2009) em que sua vida é contada de forma ilustrada.O Sr. Smith nasceu há muitos anos. Mais precisamente em 1854. Mas seu pai faleceu quando ele tinha oito anos. Para sustentá-lo e suas duas irmãs, sua mãe vendeu tudo o que a família tinha e foi morar em uma pensão barata. Fazia pequenos trabalhos para manter os filhos estudando, mas uma nova tragédia atingiu a família poucos anos depois quando sua irmã contraiu poliomielite, falecendo em seguida.Mesmo com o esforço da mãe e de sua irmã mais velha, o Sr. Smith se viu obrigado a abandonar os estudos aos 16 anos para começar a trabalhar. Sentia-se envergonhado por ser o único a não trazer dinheiro para casa. Arranjou emprego em um banco e nesta época ficou fascinado com a fotografia. Como era mágica aquela imensa e pesada caixa preta que conseguia registrar imagens exatas das coisas e paisagens.Mesmo sendo um passatempo caro, o Sr. Smith se tornou um fotógrafo amador. Mas continuava a se incomodar com o preço de cada foto (poderia chegar ao equivalente ao salário mensal de um operário), o peso da câmera (só a placa de vidro poderia pesar 20 quilos) e o processo de revelação demorado e complexo (era fácil perder a imagem e todo o investimento feito).Aos 25 anos, já com uma boa carreira profissional, planejou uma viagem ao Caribe para tirar fotos, mas desistiu quando imaginou o custo e o peso que deveria carregar. Incomodado, ficava horas em sua casa tentando achar um jeito mais fácil e barato para tirar fotografias. Testou várias ideias até chegar ao conceito de filme fotográfico. O conceito era revolucionário não por ser apenas muito mais barato, mas também permitia o uso de câmeras muito leves e portáteis.O Sr. Smith obteve a patente do filme e da câmera e fundou uma empresa para comercializar seus inventos. O sucesso foi instantâneo. Nos anos seguintes, vendeu milhões de câmeras portáteis. Qualquer pessoa com algum recurso poderia se tornar fotógrafo. “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”, o slogan mais conhecido pela empresa o tornou um dos principais milionários dos Estados Unidos.Não era o dinheiro que o tornava mais feliz, mas a possibilidade de permitir que qualquer pessoa pudesse registrar os momentos mais importantes da sua vida.Como não se importava tanto com o dinheiro, passou a distribuí-lo para iniciativas filantrópicas desde que os projetos fossem absolutamente espartanos, sem luxos mas perfeitamente funcionais.Sabendo disso, em 1912, o gerente geral da sua empresa, Frank Lovejoy, perguntou se o Sr. Smith não poderia contribuir para a construção do novo campus da faculdade em que havia estudado. Como Lovejoy e Darragh de Lancey, seu outro braço-direito na empresa, haviam estudado naquela faculdade, o Sr. Smith quis saber mais sobre o projeto.- Qual é o valor necessário? – perguntou Sr. Smith.- US$ 2,5 milhões – responderam. (Algo como US$ 60 milhões atualmente).O Sr. Smith concordou na hora em contribuir desde que seu nome ou o nome da sua empresa não fossem divulgados.Era o seu jeito. Ajudava mas não gostava de aparecer. Ele continuou fazendo doações para a escola nos anos seguintes com o pseudônimo de “Sr. Smith”. Somados e atualizados, o valor se aproximaria de US$ 500 milhões agora.Hoje, todos que visitam o Massachusetts Institute of Technology (MIT) se deparam com uma enorme imagem do “Sr. Smith”, agora publicamente conhecido como George Eastman, fundador da Kodak.Ele faleceu há muito tempo, a empresa que fundou passa por dificuldades, mas o Sr. Smith continuará existindo no MIT e em todos que por lá passaram e passarão, como, quem sabe um dia, minha filha. Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).  

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