Cabelos brancos, experiência ou resistência?

28 de outubro de 2013
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Não vamos tratar da eterna batalha inglória entre as gerações, nem dizer que quem passou dos quarenta está fora do mercado, muito menos da cobrança pelo respeito não à educação, mas à imposição feita por muitos que já ganharam os cabelos brancos e entendem que, pelo simples fato da existência dos mesmos cabelos brancos, são merecedores, e esquecem que já faz um bom tempo que antiguidade deixou de ser merecimento!

O preconceito para mudar, que as pessoas e os profissionais têm, é gigantesco, independente da idade e da posição que possuam no organograma.

Ao receber o currículo de um profissional candidatando-se a uma vaga de desenvolvedor júnior que acaba de se formar em uma boa faculdade especializada em TI, com a experiência profissional solicitada, seria natural para qualquer recrutador considerá-lo e, possivelmente, ranqueá-lo para a próxima fase da seleção, correto?

E se este profissional tivesse 40 anos, a resposta seria a mesma? Dificilmente!

Também de maneira hipotética, um head hunter, que procura um executivo sênior recebe um currículo de um profissional que excede o requisito acadêmico, transborda na quantidade de certificações e é um poliglota, porém possui uma experiência profissional abaixo do esperado até porque possui  apenas  23 anos de idade. Neste caso, provavelmente, a reprovação não estaria apenas ligada a pouca experiência profissional, mas com certeza a idade também seria um decisor.

Antes que as polêmicas comecem a surgir, no caso do jovem executivo não se trata das exceções que trazem formações em instituições internacionais de primeiríssima linha, acessíveis a uma pequena camada da população. Estamos faland, para ambos os casos, dos terráqueos normais, habitantes do planeta “brasilis”.

A decisão da contratação não seria fácil nem para o pessoal de recrutamento e muito menos para a área solicitante. Obviamente, o preconceito saltaria aos olhos e, justificá-las, em ambos os casos, seria uma missão quase impossível.

Estas situações mostram que a posição que se pleiteia não é definida apenas pelo seu conhecimento acadêmico e pela experiência profissional. O quesito idade é um componente importante na escolha do profissional. Da mesma maneira que não é comum ter um trainée com 40 anos, ter um CEO com 23 não é usual. O equilíbrio no tripé idade, conhecimento acadêmico e experiência profissional é, mesmo que não assumido por muitos, mandatório na escolha de um profissional.

Infelizmente, ainda é muito comum encontrar profissionais, por diversos motivos, muitos dos quais independem da sua vontade, acomodados em uma empresa e em um cargo sem motivação ou ambição para continuar a subir os degraus que o mercado exige, em função da sua idade. Passado algum tempo, ele se depara com uma realidade diferente: seus pares foram e ele ficou; olha para o lado e acha que a empresa mudou e que agora está cercado de moleques.

O que ele ainda não percebeu (e pagará um preço alto por isso) é que as pessoas evoluíram e ele ficou para trás. E terá, com boa dose de certeza, terríveis dificuldades de entender e, mais ainda, de aceitar que precisa caminhar. E, diferente do que ele acha, não é por uma questão do mercado, muito menos da empresa que ele trabalha.

Normalmente, é mais fácil colocar a culpa no mercado, na ganância capitalista das empresas ou do sistema. Reclama-se da velocidade das mudanças; o que é esquecido é que anos atrás, quando os cabelos brancos de hoje eram garotos, eles também reclamavam. Mas naquela época as coisas aconteciam muito devagar.

Não podemos esquecer que a velocidade que hoje tudo tomou é também de responsabilidade da geração que atualmente tem cabelos brancos e se indignava com tudo ao seu redor; são responsáveis desde a mudança da letargia dos casais que não se separavam e viviam um casamento de fachada, para os casamentos que não passam de poucos anos, até dar exemplo aos mais novos, de manifestações populares para diretas ou pela derrubada de um presidente.

O trabalho foi feito, o mundo mudou, a velocidade tão desejada chegou e está, a cada dia, mais forte. Atualmente, não é apenas o pessoal de cabelo branco que precisa continuar a caminhar. A conhecida geração Y não pode parar, até porque a próxima geração está batendo à porta.

A questão para a geração de cabelo branco não é a resistência para a mudança. A palavra correta é medo!

É evidente que não dá para manter a mesma velocidade que se tinha com vinte anos; o que esta geração, na sua maioria, ainda não percebeu, é que como um jogador de futebol, tudo tem seu tempo. Se aos 20 ele consegue dar piques e a explosão muscular é seu maior triunfo, aos 30 sua experiência, seu posicionamento e sua visão de jogo são seus maiores diferenciais e, aos 40, ele deixa o campo e vai para o banco orientar os mais novos.

Hoje, os maiores treinadores de futebol, como a maioria dos principais executivos e consultores do mundo, já passaram dos 50 há um bom tempo. Isso prova que o problema não é a idade (e muito menos os cabelos brancos). É simplesmente saber estar na posição correta, com a experiência correta para conseguir desempenhar o seu melhor.

 

Alberto Marcelo Parada. Bacharel em Administração de Empresas e Análise de Sistemas, com especialização em Gestão de Projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPMBraxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente, integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP. Diretor de Projetos Sustentáveis da Sucesu-SP

 

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