Não empreenda

23 de junho de 2014
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Não empreenda! Quantas pessoas já tiveram uma ideia de negócio parecida com a sua? Estou cansado de ouvir pessoas que querem abrir uma cafeteria. Há mais de 1,5 milhão de cafeterias neste país e você ainda quer inaugurar mais uma? Já contou para o seu pai que pretende abrir um negócio? Ele deve ter rido da sua ideia… E muito!

Está bem. Pode ser que a sua seja inovadora. Mas fique sabendo que uma grande empresa vai massacrar você e sua criatividade! E quem está dizendo isso é um professor de uma renomada escola de negócio.

Mas, se você insiste em empreender, vou contar três histórias que me ocorrem agora.

Já que falei em cafeterias, vale a pena destacar uma que tem quase 21 mil lojas. A Starbucks foi fundada em 1971 por dois professores, Jerry Baldwin e Zev Siegl, e um escritor, Gordon Bowker, que amavam cafés de alta qualidade e queriam compartilhar essa paixão com seus amigos de Seattle (EUA). Não tinham lojas, mas boutiques que vendiam pequenas joias em formato de grãos de café moídos na hora e oriundos das melhores plantações do mundo.

Em 1982, Howard Schultz, que até então fornecia máquinas de café para a Starbucks, largou o emprego para tornar-se funcionário da empresa, tamanha era sua paixão pelo café. Em viagem a Milão, Schultz conheceu as aconchegantes cafeterias italianas, com poltronas confortáveis para apreciar um café com amigos ou ler um livro.

De volta aos Estados Unidos, em 1985, abriu sua própria rede de cafeterias – a Il Giornale -, determinado a proporcionar aos clientes uma experiência única de consumo tranquilo de cafés especiais. Dois anos depois, integrou sua rede à da Starbucks.

A segunda história é a de Phil Knight, um aluno recém-formado no MBA da Universidade Stanford. Apaixonado por esportes e obstinado por encontrar um tênis que trouxesse mais desempenho, assim que concluiu o curso, em 1962, viajou para o Japão em busca do melhor fornecedor. Mesmo importando os primeiros lotes, continuou pesquisando um tênis mais eficiente. Queria surpreender os clientes com um produto mais leve, que absorvesse mais o impacto e que oferecesse melhor performance. De certa forma, essa é a paixão que move a Nike até hoje.

Por fim, temos a história do americano Fred Smith, que havia servido na Guerra do Vietnã de 1966 a 1969, na área de logística. Mais do que saber atirar ou manejar um canhão, ele aprendeu quão vital era fazer chegar a peça de reposição correta no local certo e o mais rapidamente possível. Para isso, o governo dos Estados Unidos havia desenvolvido um sistema logístico preciso, capaz de gerenciar milhares de itens diariamente, mesmo em meio ao caos e à precariedade da guerra.

De volta à sua terra natal, Smith fundou a Federal Express, com o compromisso de garantir ao cliente um serviço de entregas expressas realmente rápidas e confiáveis. Esse é o seu propósito até hoje.

Mas todas as grandes histórias têm um começo. Howard Schultz não tinha dinheiro para abrir sua rede de cafeterias. Por isso, escreveu um plano de negócio e o apresentou para 347 investidores, dos quais 342 disseram não. Há mais de 1,5 milhão de cafeterias neste país e você quer abrir mais uma? – diziam.

Quando Phil Knight decidiu abrir sua empresa, contou para o pai, que riu da ideia. Ao mencioná-la novamente, o patriarca caiu na gargalhada. Só na terceira vez percebeu que o filho falava sério e revelou sua decepção.

Já Fred Smith tinha escrito um plano de negócio, que não contou com o apoio de seu professor de empreendedorismo da Universidade Yale. Para o docente, o governo americano iria massacrar o projeto de Smith por deter o monopólio dos serviços postais.

Por todas essas razões, não apenas empreenda. Mas surpreenda seus clientes com a paixão pelo seu negócio e, sobretudo, surpreenda todos aqueles que não acreditam na sua ideia e no seu potencial!

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

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