A educação empreendedora: mesmas perguntas com novas respostas

9 de fevereiro de 2015
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A discussão remete a 1755, quando, supostamente, o economista francês Richard Cantillon apresentou o conceito de empreendedor. Mas ganhou destaque a partir do meio século 20, quando outro economista, o americano Joseph Schumpeter, associou o empreendedor à inovação e ao desenvolvimento econômico. Mais de 250 anos depois, ainda estamos longe de uma definição única de empreendedorismo – e como se formam novos empreendedores.

 

Esse debate levou a educação empreendedora a se dividir em pelo menos três grandes eixos: aspectos pessoais, planejamento de novos negócios e gestão do crescimento.

 

No aspecto pessoal, temas como proatividade, criatividade, resiliência, liderança e trabalho em equipe são explorados – é o campo da psicologia empreendedora. Em seguida, entram em cena assuntos como oportunidades e planos de negócios. E, por fim, chegam os especialistas em gestão de negócios nascentes com suas táticas de criação e desenvolvimento de empresas.

 

Contudo, essa abordagem compartimentalizada é alvo de várias críticas. No campo pessoal, ainda há polêmicas sobre perfis empreendedores e o que pode tornar o perfil de uma pessoa mais arrojado. Muitas delas escreveram planos de negócio que nunca funcionaram porque as condições reais eram muito diferents daquelas fantasiadas no plano. E não são poucos os que desaprovam as técnicas de gestão de grandes empresas para empreendedores, que não são aplicáveis em suas realidades de “fundo de quintal”.

 

Afinal, como formar empresários? Como identificar oportunidades de negócios? Como criar e desenvolver um negócio? As perguntas mais básicas continuam as mesmas, mas há novas respostas que se baseiam nos seguintes pilares:

 

– Aprender a experimentar: o professor/escritor Peter Drucker explicava que empreendedorismo não era um dom pessoal inato, mas um comportamento que pode ser praticado e desenvolvido. Novas abordagens como o effectuation (proposto por Saras Sarasvathy) e lean startup (proposto por Eric Ries) defendem o “aprender vivenciando”, uma das técnicas de aprendizado mais básicas.

 

– Aprender a interagir: enquanto as técnicas anteriores se baseavam na pesquisa de mercado, novas abordagens como o customer development (proposto por Steve Blank) e design thinking (difundido principalmente por David Kelley) defendem a interação com o mercado.

 

– Aprender a evoluir mesmo com nomes complicados, effectuation e lean startup pressupõem evolução. O ciclo empreendedor é baseado em um desenvolvimento constante, o que implica na evolução da capacidade de gestão do empreendedor. Eu mesmo desenvolvi dezenas de ferramentas de gestão para o Movimento Empreenda, uma iniciativa da Editora Globo, com apoio do Sebrae, que propõe soluções simples de gestão baseadas em técnicas consagradas das grandes empresas.

 

Essas novas abordagens podem contrapor algumas antigas, mas em muitos casos complementam ou mesmo corroboram iniciativas consagradas de educação empreendedora – como é o caso do Empretec, oferecido pelo Sebrae no Brasil.

 

Dessa forma, para os que lidam com educação empreendedora no Brasil, mais do que ficar totalmente vislumbrado com o novo ou se apegar inercialmente ao passado, é preciso continuar a questionar sobre o que é empreendedorismo e como se formam novos empreendedores para, dessa maneira, termos mais (e melhores) empresas no País.

 

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/alem-do-seu-quintal_130940.html

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