Cair, ninguém quer. Levantar, nem todos conseguem

5 de setembro de 2013
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Quando aquele cruzado de direita acertou em cheio o queixo do Anderson Silva e ele foi à lona com os olhos esbugalhados, francamente não acreditei! Depois que acabou a luta, suas desculpas pasmaram a todos; passados alguns dias e depois de se refugiar no amparo da sua família, seu discurso mudou: ele admitiu o erro. Não ficou explícito (e nem precisava) que ele errou a distância que normalmente dá para os seus adversários e acabou na lona.

No mundo corporativo não é diferente. Muitas vezes erramos a distância e, mesmo sem querer, acabamos na lona. Porém, diferente de uma luta de MMA, em que o campeão derrotado se prepara, corrige seus erros, vai para uma revanche e, em pouco tempo, consegue recuperar seu cinturão, no mundo corporativo o calvário após a queda pode ser bem maior.

O início da carreira profissional assemelha-se ao lutador: começa a participar de lutas e sonha chegar ao cinturão; erra-se a distância constantemente e os nocautes (comuns) dificilmente machucam e rapidamente estão de pé novamente. No mundo corporativo é muito parecido: caímos, seja porque a empresa foi vendida, porque erramos na escolha das empresas ou por uma série enorme de motivos, e semelhante ao lutador iniciante, levantamos rapidamente.

A cada nocaute mais uma vitória e o score sobe. Logo, de desafiador você passa a desafiado: escolhe com quem lutar e quanto cobrar em cada luta; em diversos momentos, o medo da derrota passa a ser maior do que o da vitória; até pouco tempo atrás não tinha muito a perder, mas hoje a situação é diferente e, além do nome a zelar, existe um monte de gente que depende de você; a cada dia, a cada contrato ou projeto, ficamos mais hábeis, mas muito mais cuidadosos com os nossos adversários e até com nossos “amigos”, afinal ocupamos um lugar que já não é mais comum. Ele é desejado por muitos.

Mais uma luta e, por um descuido, acontece o nocaute: um acordo mal feito, uma corrente política que começa a ventar para outros lados ou simplesmente um vacilo e estamos na lona. Nocaute! Ou, no mundo corporativo: desemprego.

A tontura que bate é igual ou até maior que a de um campeão de MMA depois de ter beijado a lona: não falamos coisa com coisa e, na verdade, não acreditamos que aquilo esteja acontecendo. A primeira sensação é se achar vítima. Mas, com um pouco de equilíbrio, percebemos que não há mais nada a fazer a não ser recomeçar.

No MMA, o desejo de pagar ingressos e pay per views pelos seus fãs conduzirá o campeão à oportunidade de uma revanche; no mundo corporativo, sua história (junto com sua rede de contatos e as decisões acadêmicas que tomou) serão os balizadores que irão definir se você terá ou não uma nova oportunidade.

Diferente do início da carreira, o envio de um CV ou uma indicação qualquer era o suficiente para uma recolocação, agora não mais. Dependendo do nível executivo que se estava, enviar CV não é uma boa alternativa. O que realmente conta é como passou a vida montando sua rede de relacionamentos e como conduziu seu conhecimento acadêmico para suportar sua subida corporativa.

O caminho, na maioria das vezes, não é simples. A queda é sempre vertical, mas a subida nem sempre o é. Muitas vezes é necessário, primeiro, ajoelhar-se na lona, depois sentar no banquinho, para finalmente voltar a ficar de pé e caminhar. Estes movimentos, para a maioria das pessoas, é muito dolorido.

Olhar para a plateia depois de beijar a lona pode ser vergonhoso demais; voltar em uma posição menor para depois buscar a posição que se estava igualmente pode parecer vergonhoso, mas na maioria das vezes é necessário. O tempo fora dos ringues corporativos é um enorme contaminador de mentes e bolsos; às vezes, mesmo não querendo, somos obrigados a aceitar lutas com menos expressão e com cachês menores para conseguir pagar as contas que insistem em chegar todos os dias.

Durante a procura por uma nova oportunidade, você irá lembrar-se de todos os fornecedores que tripudiou e todas as brincadeiras que fez com os profissionais que passavam muitas noites e finais de semana estudando para uma formação acadêmica ou uma certificação; ligará para todos eles e terá uma enorme possibilidade de encontrar as portas fechadas da mesma maneira que as fechou anos atrás.

Acredite: mesmo para conseguir posições menores e retomar a caminhada em direção à posição que perdeu, seu relacionamento com todos os profissionais que passaram pelo seu caminho fará a diferença.

Nesta caminhada de volta, muitos não terão pernas assim tão fortes; apenas os mais persistentes, os mais disciplinados e os mais perseverantes conseguirão levantar do nocaute com a ajuda dos amigos que fez e recuperar um dia o seu cinturão (ou melhor, a cadeira) que já foi seu, apoiado em todo conhecimento acadêmico que adquiriu durante a vida.

 

 

Alberto Marcelo Parada. Professor de MBA na FIAP. Palestrante e articulista, formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos e outsourcing. Experiência de 20 anos ministrando treinamentos na capacitação de executivos, média gerência e níveis operacionais; executivo com mais de 25 anos de experiência em implantação de soluções de TI para grandes empresas.

 

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