Se tudo fosse azul, o azul não existiria
Ao contrário do título do filme, azul não é a cor mais quente. A cor mais quente é o vermelho. Todo mundo sabe disso, mas o empreendedor Gary Kremen descobriu isso de forma estatística. Em 1995 ele fundou a Match.com, o primeiro site de encontros da internet. Formado em ciência da computação pela Northwestern University e com MBA por Stanford, ele era um típico nerd que não entendia muito de relacionamentos com as mulheres. Com a estratégia de atirar para todos os lados, ele também registrou sex.com, jobs.com, housing.com e autos.com. Mas foi a Match.com que acabou decolando.
Como um voyeur, Kremen ficava analisando os anúncios, a atratividade de cada candidato e as taxas de sucesso em que os encontros ocorriam. Este último indicador era o principal para o sucesso do seu negócio. O que fazia com que um candidato se destacasse dos demais, além, é claro da beleza, da proximidade e dos mesmos gostos? Havia outro fator que aumentasse a atratividade da pessoa? Ele percebeu que se a pessoa estivesse usando alguma peça de roupa vermelha, recebia aparentemente mais cliques.
A percepção de Kremen foi avaliada por vários pesquisadores que chegaram a conclusões semelhantes e o vermelho nem precisava estar na roupa. Era só incluir uma borda vermelha na foto para atrair um número maior de interessados.
Apesar das inúmeras pesquisas sobre o impacto das cores nas pessoas, são raros os empreendedores que já pararam para pensar nas cores da sua empresa. Henry Ford talvez seja o mais lembrado e talvez o mais injustiçado. Ao defender que qualquer um poderia escolher a cor do carro desde que fosse preta não era predileção sua, mas uma decisão operacional. Pintar o carro de preto exigia menos tinta, uma só demão e a pintura ficava uniforme, o que contribuía para a, aí sim, obsessão de Ford em produzir um carro barato.
Se o vermelho pode ajudar alguém a encontrar um pretendente, outras cores podem ter outros papéis. Simon McArdle, infografista da The Logo Company, fez uma comparação interessante entre as logomarcas de empresas americanas e o impacto geralmente provocado pelas cores escolhidas. Refiz o trabalho para empresas criadas por empreendedores brasileiros. Será que faz sentido?
Concorde ou não com a relação, pesquisadores ao redor do mundo ainda continuam estudando o impacto das cores nas pessoas. Um dos trabalhos mais recentes e curiosos é o livro Drunk Tank Pink do professor Adam Alter da Universidade de Nova Iorque. O título do livro é o nome da um tom de rosa que está sendo utilizado em algumas cadeias norte-americanas. A experiência teve início da década de 1980 e os psicólogos contabilizaram uma sensível queda no nível de agressividade dos presos que ficam em celas totalmente pintadas neste tom específico de rosa. Ele conta que, ao saberem disso, alguns times de futebol americano pintaram o vestiário do time visitante também de rosa. Empresas de ônibus urbanos pintaram os bancos de rosa e o nível de vandalismo caiu e iniciativas que pedem doações de porta-em-porta passaram a utilizar uniformes rosa e viram o nível de contribuição subir.
Mesmo que tenha sua cor favorita, um estudo sobre o impacto das cores do seu negócio pode ajudar sua empresa a vender mais.
Quanto ao azul, mesmo não sendo a cor mais quente, é a mais utilizada no mundo, segundo as pesquisas. Mas se tudo fosse azul, o azul não existiria. Se continuar só copiando o que já existe, deixará de existir porque será igual. Portanto inove e torne o mundo mais colorido!
Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).



