Nunca pare de mudar
É interessante ler em jornais e periódicos – não só os que falam sobre TI, mas os que abordam as corporações de maneira geral – sobre a revolução pela qual as empresas e os profissionais estão passando em decorrência da interminável e, para muitos, terrível evolução tecnológica. A tecnologia está transformando visceralmente todas as organizações, sejam elas grandes, médias ou pequenas. São tantas e tão velozes as mudanças que dificilmente aparece algum “guru” se arriscando a dar previsões sobre como estarão as empresas daqui a 5 ou 10 anos.
Juntamente com essas notícias, vem quase que incrustada uma quantidade interminável (e diria até mais terrível que elas) de cursos, seminários e workshops que pretendem levar aos profissionais e às corporações o novo modelo de organização, pregado por muitos como a organização do futuro. É claro que tudo isso gera uma ansiedade muito grande nos profissionais, independentemente de serem iniciantes ou mais experientes.
O que os periódicos pouco divulgam são matérias que falem sobre a resistência que empresas e, consequentemente, profissionais têm contra mudanças e adaptação aos novos tempos. O que se vê (e isso não se limita apenas às gigantescas e ainda consideradas por muitos, paquidérmicas corporações, mas também é encontrado nas médias e pequenas empresas que em solo tupiniquim são maioria) é a criação de emperrados e burocráticos processos que têm o objetivo único de manter o “status quo” da empresa. A justificativa? Se foi assim que se chegou à atual posição do mercado, é assim que se conseguirá alcançar e bater as metas.
Diferente do que possa parecer, as atitudes acima escondem o imenso medo que as pessoas e as corporações têm que mexam no seu queijo [referência do livro ‘Quem mexeu no meu Queijo?’, de Spencer Johnson]. Quando as empresas nascem, o grande impulsionador do crescimento é a inovação. Fazer diferente e criar sempre o novo com o objetivo de ganhar dinheiro e espaço no mercado é vendido e incentivado a todos os colaboradores.
Porém, a maioria dos propulsores sucumbe imediatamente após a empresa apresentar crescimento e ganhar espaço no mercado. Normalmente, eles dão lugar a ações quase feudalistas advindas dos proprietários ou ditatorial por parte do CEO. O objetivo é crescer sim, vender mais sempre, mas desde que o modelo não mude.
O que no início era entendido como uma atitude inovadora dos colaboradores transforma-se em rebeldia. Alguns diriam até indisciplina. Com o passar do tempo e a perpetuação do sucesso do modelo feudal, que se mantêm graças às metas alcançadas, os executivos têm a falsa impressão de que o modelo é o ideal e que os processos funcionam perfeitamente.
Este ecossistema propicia o aparecimento e a propagação de uma espécie interessante e muito frequente nas corporações: o funcionário medíocre. Aquele que está na empresa há anos, que por muitos é considerado uma referência, mas que uma análise um pouco mais detalhada mostra que ele não faz nada há muito tempo, apenas sabe surfar na burocracia criada e tira proveito dela, às vezes aparecendo, às vezes sumindo, mas sempre sobrevivendo.
É claro que instituições e pessoas como essas têm prazo de validade. Muitas empresas são compradas ou absorvidas todos os dias e muitas destas culturas são implodidas. Graças a Deus! É preciso mostrar que corporações e profissionais deste tipo ainda existem em boa quantidade e que, infelizmente, diferente do que os jovens sonham, este é um mundo ainda bem real.
O objetivo não é jogar um balde de água fria em quem está chegando ao mercado, muito menos desmotivar quem acredita que a mediocridade corporativa esteja chegando ao fim. O importante é mostrar que o que parece em extinção ainda é a regra, e que ser um inovador, na maioria das vezes, é mais difícil e arriscado do que possa parecer. O desafio é saber navegar no mundo corporativo e entender que é impossível se manter o tempo inteiro inovador e desbravador. Mas é importante não parar de mudar e inovar – sempre.
Alberto Marcelo Parada. Professor de MBA na FIAP. Palestrante e articulista, formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos e outsourcing. Experiência de 20 anos ministrando treinamentos na capacitação de executivos, média gerência e níveis operacionais; executivo com mais de 25 anos de experiência em implantação de soluções de TI para grandes empresas.



